Pesquisa aponta que o Brasil dispensou mais de 4,5 milhões de antibióticos em sete anos.
Pesquisa publicada pela revista PLoS One, intitulada “Uso comunitário de antibióticos sistêmicos entre indivíduos com 15 anos ou mais no Brasil: um estudo transversal de base populacional de sete anos”, aponta que mais de 4,5 milhões de antibióticos de uso sistêmico foram dispensados no Brasil entre 2014 e 2020. O estudo, conduzido por Tatiana de Jesus Nascimento Ferreira, Rosângela Caetano, Ria Benkö, João Henrique de Araújo Morais e Claudia Garcia Serpa Osório-de-Castro, teve como base os dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), monitorado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A pesquisa indica variações expressivas no consumo, que oscilou entre 9,8 e 12,9 doses diárias definidas (DDD) por 1.000 habitantes/dia, além de revelar disparidades significativas entre as diferentes unidades federativas. Estados como Amazonas, Amapá, Rondônia, Mato Grosso e Rio Grande do Norte se destacaram pelos altos níveis de consumo de antibióticos. No entanto, quando considerado o volume absoluto de consumo, os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina apresentaram os maiores patamares de DDD por 1.000 habitantes/dia ao longo de toda a série histórica.
O uso indiscriminado e excessivo de medicamentos traz diversos riscos, entre eles o desenvolvimento da Resistência Antimicrobiana (RAM), um fenômeno que ocorre quando microrganismos (bactérias, fungos, vírus e parasitas) sofrem alterações após exposição a antimicrobianos, como antibióticos, antifúngicos, antivirais, antimaláricos ou anti-helmínticos. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), todos os anos cerca de 480 mil pessoas desenvolvem tuberculose resistente a múltiplos medicamentos. A entidade também alerta que o avanço da resistência aos tratamentos têm dificultado o combate ao HIV e à malária.
Durante o período de 2014 a 2020, os antibióticos sistêmicos mais consumidos no Brasil foram os macrolídeos, responsáveis por 34% do consumo, seguidos pelas penicilinas, com 20,1%, e as quinolonas, com cerca de 15,9%. Juntos, esses três grupos representaram mais de 70% de todo o consumo de antibióticos sistêmicos no país. Entre os antibióticos, a azitromicina aparece como o mais consumido, seguida pela amoxicilina. O predomínio dos macrolídeos acende um sinal de alerta para a resistência antimicrobiana, uma vez que essas substâncias são particularmente suscetíveis ao problema.
Especialistas destacam que, além da vigilância e do monitoramento do uso desses medicamentos, é imprescindível a adoção de protocolos clínicos e a promoção da conscientização da população sobre os riscos do uso indiscriminado de medicamentos em geral.
O artigo está disponível na íntegra neste link: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0325231.
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